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Final feliz?


Há pouco assisti a um filme em que o ator principal, ao ler um livro com um final triste, fica revoltado, reclamando sobre a falta de positivismo das pessoas. Concordo com a revolta contra o olhar negativo sobre a vida, porém, pergunto: Em que momento estão dispostos estes ditos “finais”? No momento da morte? Pouco antes dela? Se sim, pessoas no auge das fases de suas vidas não poderiam colocar em debate seus “finais felizes ou tristes”.
A vida tem início, meio e fim. Sim, é verdade, mas depende do ponto de vista. De repente ela tenha vários ‘fins’; muitos se enganam e consideram-se viventes de uma história única, com início meio e fim, bem determinados. Porém se esquecem de algo nítido aos olhos de qualquer um: somos feitos de inúmeras histórias, as quais são feitas de pequenos grandes momentos.
E agora, a angústia aumenta mais – nascem, com essa forma de enxergar, vários finais para lidar e considerar ‘felizes ou tristes’ – o que parecia ser difícil com apenas um. Somos diversas histórias paralelas, simultâneas e com destinos diferentes, sendo muitas delas com finais indefinidos; como saber quando acabou? Uma história de amor, por exemplo, possui incidentes extremamente imprevisíveis - o ser humano, com toda sua sagacidade, até hoje não sabe lidar logicamente com sentimentos amorosos.
Outra linha para se considerar: até que ponto a ausência de um “final feliz” torna desprezível e inválida toda a felicidade que transitou durante uma história? Aplicando o mundo jurídico aos fatos, tem-se que a validade não é requisito para a existência...
A mente humana, livre de qualquer influência ou convivência, só assim já se cansa; não é à toa que dizem que a reflexão é atividade de desocupados. E digamos que uma boa reflexão pode levar uma mente bem preparada a muitos lugares, inclusive enlouquecedores. Chegar a uma conclusão sobre tantos “finais”, “inícios”, “tristes” e “felizes” que convivemos por tempo integral é, de fato, uma atividade de desocupados, mas que pode levar muitos angustiados a algum feixe de luz.
Já ouvi dizerem “No final sempre dá tudo certo. Se ainda não deu certo, é porque ainda não é o final”; também é uma forma de ver, afinal, como já foi dito, saber quando um dos pequenos grandes contos, peças do quebra-cabeça representante da sua vida, terminou, não é fácil como quando o quebra-cabeça está completo, terminado (assim como ninguém esquece: a única coisa óbvia sobre a vida é a morte).
Não gaste suas palavras ao dizer que sua história não teve um final feliz, pode ser apenas um dos capítulos de uma das seções do seu livro. E nunca esqueça: um final triste que traz um recomeço feliz torna-se automaticamente um final feliz.

Fevereiro de 2013