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Concordar, Admirar e Amar


Nosso posicionamento frente a questões sociais e, até mesmo, em relação aos nossos próprios dilemas pessoais, dita o nosso caráter.
(Ou o nosso caráter dita os nossos posicionamentos? Não sei...
Mas, certo é que há um forte e inquebrantável vínculo).

Por muito tempo, nossos pontos de vista são moldados unicamente através dos olhos daqueles que nos criam e educam. Aqueles que, normalmente, representam nosso primeiro exemplo de amor e admiração.

Com o transformar dos hábitos e relações, a forma de enxergarmos a vida passa a moldar-se, também, pela contribuição de outros diversos ângulos de visão. Dos mais semelhantes ao nosso, aproximamo-nos. (E os outros? Simplesmente ignoramos? ...)

 É chegado um momento, no mais das vezes, em que o nosso campo de visão não mais se encaixa naqueles moldes outrora confortáveis aos nossos olhos – moldes que, perplexamente, permanecem sob medida aos olhos daqueles que costumavam mirar, lado a lado, no mesmo sentido que nós.

Neste – frustrante – instante, as más sensações não se deixam intimidar.
Como é possível tal pessoa, que tanto amo e quero ao meu lado, não enxergar o azul do céu (ou o cinza das nuvens) com a mesma tonalidade que eu?

Vemo-nos em efeito dominó de questões:

Até que ponto devemos restringir o nosso círculo de relações àqueles que têm pensamentos em conformidade aos nossos?
Até que ponto devemos limitar o nosso amor àqueles que se fundamentam nos mesmos anseios e valores que os nossos?
E, enfatizo: não são perguntas retóricas. Para mim, permanecem inconclusivas...

Diante de tais reflexões, vem à tona a misteriosa relação entre amor e admiração. Talvez, em alguns casos, a questão se esclareça com a inferência de uma cisão natural entre amor e admiração. O amor, de repente, pode permanecer alicerçado, mesmo diante de uma admiração violada.

Entretanto, como sustentar meu amor, sem admirá-lo? Há quem diga que somente o contrário é viável: posso admirar-te e não te amar; mas, não posso te amar se eu não te admirar. (Mas, o amor não era cego? ...)

Colocam-se nada mais que ideias jogadas ao vento.
Vento este que, no melhor da imaginação, pode assoprar para longe uma paleta anuviada e, assim, esclarecer o quanto e como a diferença de tonalidades é capaz de interferir nos demais tons da paisagem...

Maio de 2020