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Onde está a linha de chegada? Breves linhas sobre o Feminismo

O presente texto tem como finalidade precípua chamar a atenção para certos equívocos que nos acostumamos a ver como corretos. Certas anormalidades que nos ensinaram a compreender como banalidades corriqueiras. Certos absurdos que nos empurraram como aceitáveis. O presente texto tem como finalidade precípua chamar a atenção das mulheres. E dos homens que me levam a tomar tal iniciativa. E das mães de homens, para não criarem um ciclo vicioso. E de todos os que se consideram abertos o suficiente para enxergar o inadmissível por detrás das trivialidades do dia a dia. Vivemos numa sociedade cuja espinha dorsal é uma escala; uma escala medidora dos nossos comportamentos, atitudes, capacidades e conquistas. Ensinam-nos que nossa ascensão – não só em termos profissionais, mas como exemplo de pessoas ao nível das relações pessoais, amorosas e familiares – é diretamente proporcional a tais medidas. O que não nos ensinam é que a razão constante, essencial à precisão das medidas apresenta

Sobre o Caso Valentina

Há poucos anos, o Brasil foi aterrorizado com o Caso Bernardo, o menino assassinado pelo pai e pela madrasta e encontrado enterrado numa cova feita num matagal. O pai e a madrasta foram condenados, respectivamente, a 33 e 34 anos de prisão. O menino Bernardo já havia pedido socorro anteriormente, mas ninguém se mobilizou sob o argumento de que ele não apresentava sinais físicos de violência ou maus tratos. Agora, está em andamento a investigação da menina Valentina, em Portugal, encontrada morta num matagal, cujo pai e madrasta são suspeitos. Até o presente momento, a Polícia Judiciária portuguesa concluiu não haver quaisquer indícios de que a menina sofria maus tratos anteriormente. Como parte integrante da área jurídica, tenho a consciência de que não se deve tirar quaisquer conclusões precipitadas a respeito dos casos, antes de uma ampla e bem feita instrução probatória. Assim, limito-me a compartilhar uma única conclusão, que, independentemente do fim que a inv

Meu Desabafo (Comentário sobre desfile de crianças e adolescentes acolhidos em maio de 2019)

Em maio de 2019, foi promovido o evento denominado "Adoção na Passarela", no estado do Mato Grosso, Brasil, pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA), em parceria com a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil do Mato Grosso (OAB-MT). Na ocasião, crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos de idade, aptos para adoção, desfilaram em um centro comercial,   para uma plateia de possíveis adotantes, com o intuito de incentivar os processos de adoção. No meu curso de pós-graduação em Direito de Família e Sucessões (2017/2018), escrevi uma monografia sobre as motivações envolvidas nos processos de adoção. Minha principal conclusão foi a de que uma adoção de sucesso é aquela em que as razões dos adotantes baseiam-se no desejo de ser pai/mãe. Nada mais, nada menos. Com a minha pesquisa (que envolveu entrevistas interdisciplinares com profissionais de vasta experiência na área da infância e juventude) também aprendi sobre

Concordar, Admirar e Amar

Nosso posicionamento frente a questões sociais e, até mesmo, em relação aos nossos próprios dilemas pessoais, dita o nosso caráter. (Ou o nosso caráter dita os nossos posicionamentos? Não sei... Mas, certo é que há um forte e inquebrantável vínculo). Por muito tempo, nossos pontos de vista são moldados unicamente através dos olhos daqueles que nos criam e educam. Aqueles que, normalmente, representam nosso primeiro exemplo de amor e admiração. Com o transformar dos hábitos e relações, a forma de enxergarmos a vida passa a moldar-se, também, pela contribuição de outros diversos ângulos de visão. Dos mais semelhantes ao nosso, aproximamo-nos. (E os outros? Simplesmente ignoramos? ...)   É chegado um momento, no mais das vezes, em que o nosso campo de visão não mais se encaixa naqueles moldes outrora confortáveis aos nossos olhos – moldes que, perplexamente, permanecem sob medida aos olhos daqueles que costumavam mirar, lado a lado, no mesmo sentido que nós. Neste –

O Fim do Prudêncio

Meu peixe, Prudêncio, morreu. Prudêncio vivia na minha sala, sempre bem iluminada, em um aquário que eu limpava regularmente. Eu gostava muito de tê-lo por perto. Prudêncio me servia como um bom ouvinte. Todas as vezes que eu precisava desabafar ou, principalmente, refletir sobre decisões que tinha de tomar, sentava-me perto do Prudêncio, observava-o a nadar e, inexplicavelmente, a transparência da água, de alguma maneira, se transmitia para os meus pensamentos e me trazia importantes esclarecimentos... Sempre defendo que o ato de refletir é uma ótima ferramenta – até diria indispensável – para utilizar abusadamente antes dos passos que damos na vida. Mesmo que a transparência da água de um peixe chamado Prudêncio seja a principal fonte de inspiração.              Sem dúvidas, a morte do Prudêncio foi um fato altamente lamentável. E nada esperado. Fruto de atitudes imprudentes, eu diria, com ironia. Em que pese de amigos meus. Há pouco tempo, tive que me ausentar de casa po

Sensibilidade Conveniente: Carta de um Amor Egoísta

          Hoje acordei a pensar no quanto sinto tua falta. No quão difícil tem sido viver com tua ausência. No quanto sofro por não poder te alcançar. Quando observei tua partida, com minhas mãos soltas, minhas costas leves e minha mente livre, aquela estrada não parecia tão longa... Mas... Veja só – o tamanho do meu amor! – cheguei a dar alguns passos naquele asfalto de aparência tão plana, rumo ao caminho que tomaste, pensando em te encontrar... Entretanto, confesso, em certa altura, deparei-me com irregularidades que me fizeram cair e me machucar; assim, retornei. Não podia te encontrar em tais condições, além de ter sentido leves dores que precisava curar. Não sabes o quanto chorei! (Aproveito para questionar-te: como conseguiste enfrentar aquele complicado trecho?! Admiro-te muito pela perseverança.) Sabes, viver sem a correspondência de amor tão grande traz-me dor tão intensa Mas... Ao relembrar certas situações, entendo que talvez tenhas razões para ter interpret

Uma reflexão sobre a pandemia...

Como forma de tentar, em cenário de tamanha desesperança, sugar alguma mínima otimização da situação mundial, diria que o momento é propício para refletirmos sobre o motivo pelo qual o nosso é sempre mais importante. Por qual razão a grama do vizinho só é mais verde sob um viés invejoso.    Peguei-me pensando sobre o absurdo velado, presente nas tentativas desesperadas de sensibilização e empatia, correspondente ao conselho para agir em prol do benefício social e de outrem “como se estivesse a agir em prol da saúde do teu familiar.” Não. Não podemos cogitar como aceitável que a preocupação com o imensurável sofrimento alheio só se concretize pelo temor de que o mal alcance a nossa própria seara de proteção.   Muitas das boas atitudes humanas costumam ter como força propulsora o disfarce de intenções interessadas em molde viciado de bondade e empatia. Enquanto ninguém percebe que o produto de uma atitude deve ser tão importante e acautelado quanto as razões pelas quais o mesmo ag